sexta-feira, 19 de dezembro de 2014
Afinal, o que é Direção de Fotografia?
É uma das funções de maior importância dentro de um set de cinema, mas que muitos tem dúvidas sobre o que faz um Diretor de Fotografia. Como o próprio nome sugestiona, é através da fotografia que tudo o que vemos dentro da janela do cinema é captado, ou seja, gravado.
A real função do fotógrafo no set de filmagem é tão importante, quanto a do próprio diretor. É pelas mãos, e principalmente, pelo olhar deste profissional que enxergamos todas as facetas do filme. Seja pela imagem toda focada, ou com detalhes desfocados, pela falta ou excesso de luz, por todo e qualquer objeto ou personagem que aparece no quadro, e por todos os movimentos , ou não, de câmera. Através de muito diálogo e defesa de ideias, que o fotógrafo em conjunto com toda a equipe do filme, decide o que entra e o que saí da janela cinematográfica.
São funções que demandam muito treino, mas principalmente um olhar lapidado.
A Direção de Arte e Fotografia devem andar sempre juntas, pois uma beneficia a outra. O fotógrafo não ilumina o vazio, sempre deve haver algum objeto de cena para compor o quadro e quando não há, a ausência é justificada pelo diretor geral.
Entender a direção de fotografia é simples, porém a forma com que o fotógrafo lida com a luz, seu principal "objeto" de trabalho, pode mudar toda a linguagem pré-concebida de um filme.
É uma função que em grande parte torna-se meramente técnica, por obrigar o fotógrafo a conhecer determinados tipos de lentes, refletores, câmeras e demais equipamentos, mas também é
extremamente prazerosa, por permitir pintar o cenário com suas luzes e ter o privilégio de visualizar primeiro, o que é ou não filmado.
segunda-feira, 24 de novembro de 2014
Entrevista dos fundadores do Cinetoscopo para o Blog "Nina & Dex"
Os criadores do Blog, Thiago Beckenkamp e Leandro Winkelmann participaram de um podcast do blog Nina & Dex, falando sobre seus movimentos preferidos do cinema, e dando algumas dicas de filmes.
E para quem quiser dar uma olhada no blog deles, clique aqui!
E para quem quiser dar uma olhada no blog deles, clique aqui!
Saiba como surgiu o Cinetoscopo!
Galera, aqui vai u vídeo explicatório sobre o Cinetoscopo.
Os criadores do blog falam sobre como ele surgiu, qual seu objetivo e outras informações interessantes sobre o blog.
domingo, 23 de novembro de 2014
Cinema Novo Brasileiro - A Revolução e Ressurreição do Cinema Nacional
No início dos anos 40, a ideia de criar um estúdio nos
moldes de Hollywood atraiu investidores paulistas e diretores estrangeiros. Foi
assim que surgiu a Vera Cruz, primeira produtora de cinema em escala industrial
no Brasil. Porém devido a problemas na distribuição, e enfrentando a pressão de
diversas dívidas a empresa foi à falência. Em uma tentativa de quitar as
dívidas, a Vera Cruz vendeu os direitos do filme “O Cangaceiro” para a Columbia
Pictures. Este foi o primeiro filme brasileiro a ganhar reconhecimento
internacional e a Vera Cruz não ganhou nada por isso.
O Cangaceiro, Lima Barreto - 1953 |
A Vera Cruz não foi a única
produtora Brasileira da época, outras também tentaram, mas tiveram o mesmo
destino da Vera Cruz. Inclusive produtoras que tiveram papeis importantes na
história do cinema brasileiro, como a Multifilmes, que foi a responsável por “Destino
em Apuros”, primeiro filme em cores produzido aqui.
Destino em Apuros, Ernesto Remani - 1953 |
Nos anos 50, movidos pela
inovação do Neo Realismo Italiano, diretores brasileiros buscavam transportar
para as telas a realidade do país. Também havia grande inspiração na Nouvelle
Vague, já que um dos ideais era transgredir as regras impostas pelo cinema
tradicional de Hollywood. Nessa época surgiram filmes que marcaram o período,
como “Agulha no Palheiro” e “Rio 40 Graus”.
Agulha no Palheiro, Alex Viany - 1953 |
Rio 40 Graus, Nelson Pereira dos Santos - 1955 |
Já nos anos 60, inspirados
pelos primeiros passos do cinema nacional rumo à libertação dos paradigmas
hollywoodianos, jovens diretores estavam engajados com a realidade política
vivida na época. O sentimento de mudança era transferido para suas produções.
Foi nesta fase que surgiram três dos que foram considerados os precursores do
movimento do Cinema Novo Brasileiro. “Vidas Secas” de Nelson Pereira dos
Santos, “Deus e o Diabo na Terra do Sol” de Glauber Rocha, e “Os Fuzis” de Ruy
Guerra.
Vidas Secas, Nelson Pereira dos Santos - 1963 |
Os Fuzis, Ruy Guerra - 1964 |
Glauber Rocha se tornou o
maior ícone do Cinema Novo. Seu lema “Uma câmera na mão e uma ideia na cabeça”
se tornou a principal motivação de todo o movimento. A prioridade à arte antes
da produção em escala industrial, foi o que motivou vários destes diretores em
um dos momentos mais significativos para a libertação dos costumes pragmáticos
que existiam até então.
Glauber Rocha |
Glauber Rocha também foi o
criador do que ele chamava de “estética da fome”. Que diferente do cinema
convencional, mostrava a pobreza do país diretamente da fonte real, assim como
no Neo Realismo Italiano. Sua ideia, segundo ele, era mostrar o país na tela,
da maneira mais fiel possível, com cinema de baixo orçamento e liberdade
autoral do diretor.
Cinema Noir - Muito além de histórias sobre investigações criminais.
Muito se falou sobre guerras neste blog, mais exatamente
sobre o período após elas, que acabaram sendo essenciais para uma mudança de
mentalidade nos homens. Com eventos tão catastróficos por motivos tão
injustificáveis, a humanidade passou a ver o mundo com mais ceticismo e
pessimismo, sob um constante estado de vigília, onde se tenta garantir apenas o
próprio bem estar e sobreviência. Este é o mundo retratado no movimento Film
Noir, bastante popular nos anos 40 e 50.
Com o regime nazista se instalando na Alemanha nos anos 30,
muitos cineastas alemães migraram para os EUA, trazendo consigo a já conhecida
estética expressionista, unindo-a com o cinema hollywoodiano.
Basicamente pode se dizer que esta foi a fórmula dos filmes Noir.
Esta nova vertente caracterizava-se por apresentar uma versão degradada do homem, normalmente usando temas como imoralidade, corrupção, complôs, desconfiança, vícios, manipulações e traições. No universo Noir, a evidência maior está no psicológico desestruturado dos personagens.
Como já citado, a estética Noir originava do expressionismo,
sendo notável o alto contraste entre preto e branco e na intensa valorização
das sombras.
Outro aspecto importante foram os ambientes esfumaçados.
De modo geral, há diversos aspectos que acabaram sendo
tradicionais em quase todas as obras:
- A trama central gira em torno de um assassinato ou roubo;
- Há sempre a figura do detetive particular;
- Muitas passagens narradas;
- Muitos flashbacks. Em alguns casos o filme inteiro é um flashback;
- Ambientes luxuosos;
- Lugares como clubes e casas noturnas;
- Personagens que fumam, com cenas onde se destaca a fumaça;
- Becos escuros e sujos;
E um destaque especial para as duas grandes marcas do Cinema
Noir – as sombras de persianas sobre o rosto do protagonista.
E as femme fatales, mulheres cuja
imagem foi na contramão dos preceitos da época. Aparentavam independência e
sexualidade. Tinham grande poder de sedução e manipulação, estando normalmente
ligadas ao protagonista.
O Cinema Noir foi mais um produto do pós-guerra que novamente
usou de toda a tensão e incertezas do momento, para transformar um filme em uma
mostra do instinto de sobreviência na selva urbana. Sem explicações, sem
justificativas, apenas a exposição do sujo.
Abaixo, uma pequena lista com alguns dos principais filmes Noir.
Abaixo, uma pequena lista com alguns dos principais filmes Noir.
O Segredo Das Jóias (The Asphalt Jungle), de John Huston - 1950 |
O Império do Crime (The Big Combo), de Joseph Lewis - 1955 |
Pacto de Sangue (Double Indemnity), de Billy Wilder - 1944 |
À Beira do Abismo (The Big Sleep), de Howard Hawks - 1946 |
sábado, 22 de novembro de 2014
Nouvelle Vague - Quebrando os Paradigmas do Cinema Clássico de Hollywood
Assim como o Neo Realismo
Italiano, a Nouvelle Vague fez parte do que ficou conhecido como “Movimento de Cinema
Artístico Europeu”. A intenção deste movimento era ir contra os padrões pré
estabelecidos pelo cinema clássico hollywoodiano.
No final dos anos 50, uma
necessidade de novas linguagens cinematográficas levou um grupo de cinéfilos e
críticos que escreviam para a revista francesa “Cahiers Du Cinéma” a criarem
espontaneamente um novo tipo de narrativa estética que rompesse relações com o
estilo conservador do cinema da época. Deste mesmo meio de críticos surgiram nomes
como François Truffaut, Jean-Luc Godard, Éric Rohmer, Claude Chabrol e Jaques
Rivette.
Revista Cahiers Du Cinéma |
Muitos destes jovens estavam
engajados com inovações sociais e políticas da época, transparecendo seu
sentimento de renovação e mudança em suas produções, como ficava evidente na
edição, direção e narrativa das mesmas.
François Truffaut foi um dos
mais agressivos críticos do cinema tradicional Frances na época. Sua obra “Os
incompreendidos” é, talvez, uma das principais obras do movimento, já que
serviu de alavanca para outros diretores como o próprio Godart, por trazer
inovações e uma quebra total das regras conhecidas até então.
Os Incompreendidos (Les Quatre Cents Coups), François Truffaut - 1959 |
Jean-Luc Godard talvez seja
o nome mais conhecido do movimento vanguardista francês. As técnicas utilizadas
por ele surpreendiam as pessoas na época, causando uma sensação de estranheza,
sem que elas pudessem identificar se aquilo era intencional ou não.
Acossado (A Bout De Souffle), Jean-Luc Godard - 1952 |
Nas Garras do Vício (La Beau Serge), Claude Chabrol - 1958 |
Um dia desses eu assistia a
um documentário sobre edição e montagem e me lembro de uma parte onde o editor Richard
Chews falava que ao assistir o filme Acossado nos anos 60, não sabia se aquele
diretor simplesmente não sabia o que estava fazendo, ou se confiava tanto no
seu domínio da gramática cinematográfica que tentava apresentar uma nova forma
de linguagem, já que nos primeiros 5 minutos de filme ele já havia quebrado
todas as regras.
Acossado (A Bout De Souffle), Jean-Luc Godard - 1952 |
No mesmo documentário, até
mesmo Martin Scorsese afirma que quando assistiu ao filme não entendeu nada,
pois aquilo tudo era moderno demais para ele. Hoje em dia qualquer um possui
uma compreensão quase inata da linguagem audiovisual. Muito já foi
experimentado e ensinado, e o que parecia tão estranho algumas décadas atrás
pode parecer clichê e batido hoje em dia. Por isso é preciso colocar-se no
contexto da época antes de assistir a uma obra, principalmente quando ela é
proveniente de um movimento tão significativo como foi a Nouvelle Vague.
Os Spaghettis Westerns e o preconceito com a cultura de massa.
Os Westerns,
conhecidos no Brasil como faroestes,
ou bang bang, são filmes que retratam
o período em que as fronteiras dos EUA foram estendidas até o Oceano Pacífico,
cujos territórios novos foram também povoados a medida em que eram anexados, entre
1840 á 1890. Portanto, uma temática essencialmente norte americana.
Então, como seria possível um filme sobre o Velho Oeste não ocorrer no Velho
Oeste? Parece estranho, mas foi talvez o maior movimento do cinema popular italiano
durante as décadas de 60 e 70, os Spaghettis Westerns.
De modo geral, os filmes não possuiam histórias elaboradas e profundas, mas possuiam características marcantes como a ênfase na sujeira dos personagens, e principalmente na poeira dos ambientes que transmitiam miséria e desolação (quase todos os filmes foram rodados no deserto de Almeria, Espanha), ao contrário dos westerns americanos, que apresentavam o deserto como uma paisagem a ser admirada.
A violência era alta, com muitas mortes e tiroteios. Possuiam heróis com
características peculiares e caricatas. E por fim, uma certa despreocupação com
o contexto histórico, pois era comum o uso de metralhadoras nos filmes, arma
esta que não havia sido inventada em tal período.
Django, de Sergio Corbucci - 1966 |
Estas características acabaram desagradando a crítica e aos cinéfilos, que
desprezaram totalmente o movimento, alegando que as obras italianas não
possuíam conteúdo, essência western, e que mais pareciam paródias.
Outro aspecto que contribuiu com a má imagem obtida na América, foi o fato dos
faroestes italianos terem sido feitos para o consumo da massa, ao contrário dos
westerns americanos, que possuiam um público mais seleto por serem filmes “cult”.
Mas houve o
momento em que a América provaria com gosto os Spaghettis Italianos, graças a
obra de Sergio Leone.
Sergio Leone |
“Por Um Punhado de Dólares” inicialmente foi recebido com todas as críticas já
citadas, mas, décadas depois foi considerado considerado um grande clássico dos
faroestes em geral.
Por Um Punhado De Dólares (Per Un Pugno Di Dollari) - 1964 |
No ano seguinte Leone retornaria com “Por Uns Dólares a Mais”, e a consagração
final de sua "Trilogia do Homem Sem Nome" viria em 1966, com o maior clássico spaghetti, “Três Homens Em Conflito”.
Por Uns Dólares A Mais (Per Qualche Dollaro In Piú) - 1965 |
Três Homens Em Conlgito (Il Buono, Il Bruto, Il Cattivo) - 1966 |
Estas obras também
marcaram o movimento.
Django, de Sergio Corbucci - 1966
A Morte Anda a Cavalo (Da Uomo A Uomo), de Giulio Petroni - 1967 |
Era Uma Vez No Oeste (C'era Una Volta Il West), de Sergio Leone - 1968 |
Cimitero Senza Croci, de Robert Hossein - 1969 |
Muitos dos que criticaram intolerantemente estes filmes, acabaram reconhecendo
seus valores décadas depois. Talvez o amadurecimento pessoal e a percepção de
que a essência de uma estética única e nova possa ser levada em conta, tenha
feito-os enxergar o imenso valor que o Spaghetti Western possui.
sexta-feira, 21 de novembro de 2014
Cinema Marginal - A Anticultura Brasileira.
O militarismo é um tema bastante comum no cinema. Além de
haver uma vertente especialmente para o caso (os chamados “filmes de guerra”), o
argumento também está presente em quaisquer gêneros de filmes, sejam eles
ambientados em épocas de conflitos, ou apenas com personagens militares. A
mescla da sétima arte com o militarismo rendeu grandes obras, como “O
Pianista”, “Caçadores de Obras Primas”, “O Leitor”, entre muitas outras.
Mas a história nos mostra que fora das telas o militarismo sempre foi um inimigo
da intelectualidade. Durante o auge do expressionismo, muitas obras foram
destruídas pelo nazismo. Na União Soviétiva, a era Stalin reprimiu todos os
movimentos artísticos que não fossem baseados no “realismo socialista”.
No Brasil não foi diferente. No período em que o país esteve sob um regime
militar (1964 á 1985), toda e qualquer obra artística (musical, literária, cênica, etc) que fosse considerada imprópria pelo governo, era censurada, e
seus autores sofriam duras represálias, muitos sendo exilados ou presos.
Mas como já vimos aqui mesmo neste recinto, os momentos de crise acabam sendo
um incentivo para a criatividade, e neste caso, um grande desafio para a arte
brasileira. A produção artística não parou, mas seus criadores se viram
obrigados a optar entre dois caminhos: obras com mensagens disfarçadas, ou
obras clandestinas.
Neste post, falarei a respeito da arte
clandestina brasileira, mais precisamente sobre o cinema, que ficou conhecido
como Cinema Marginal.
Como forma de resistência ao moralismo e ao otimismo cego pregado pelas
propagandas militares, alguns cineastas decidiram dar ênfase a “anticultura”
brasileira, retratando tudo aquilo que era rejeitado pelos padrões sociais da
época, como prostitutas, drogados, criminosos, promiscuidade, travestis, etc.
Também haviam diversas críticas sociais; ao populismo carnavalesco; a censura;
e aos padrões cinematográficos.
Houveram exemplos de filmes marginais nos mais diversos movimentos, como o
Tropicalismo e o Cinema Novo, e também nos filmes de terror de José Mojica, por
isso, o Cinema Marginal não foi considerado um movimento de fato, embora
tivesse aspectos únicos como as histórias grotescas e absurdas em produções de
baixo custo, personagens estranhos, anti heróis da realidade brasileira, e principalmente,
o desprezo pelo “bom gosto”.
O precursor de tudo isso foi Ozualdo Candeias, que trouxe com
seu filme de estréia “A Margem”, 1967, a inovação da composição baseada na
visão da câmera, ao invés da tradicional cena emoldurada.
A Margem, de Ozualdo Candeias - 1967 |
Rogério Sganzerla veio em seguida transformando um dos
maiores criminosos da história deste país em um ícone, naquele que foi um dos
maiores filmes da história do cinema nacional de modo geral.
O Bandido da Luz Vermelha, de Rogério Sganzerla - 1969 |
Algumas das obras mais marcantes:
Agonia, de Júlio Bressane - 1978 |
Matou a Família e Foi ao Cinema, de Júlio Bressane - 1969 |
Bang Bang, de Andrea Tonacci - 1971 |
Ritual de Sádicos, de José Mojica - 1969 |
Poderia uma das maiores fases do cinema nacional ter surgido
de forma despretensiosa? Candeias resolveu fazer experimentalismos, e acabou
influenciando toda uma leva de marginais
que não tinham maiores pretensões além da pura e simples avacalhação.
Um marco na história da cultura nacional.
Um marco na história da cultura nacional.
Westerns - A Origem da Linguagem Cinematográfica
Não há como falar do cinema Western sem falar da origem
do próprio cinema. Em 1903, Edwin Porter criava os princípios da linguagem cinematográfica
como conhecemos com o que foi considerado o primeiro Western da história.
A mais de cem anos atrás o filme “O Grande Roubo do Trem”
estabelecia alguns dos métodos que são utilizados até hoje. Apesar do cinema
estar dando seus primeiros passos, o filme apresentava elementos inovadores, um
avanço impressionante para a época, com cenas alternadas, closes de tensão e
ação simultânea.
O Grande Roubo do Trem (The Great Train Robbery), Edwin Porter - 1903 |
Depois deste marco na história do cinema vieram outros
filmes, como o clássico “Os Bandeirantes” (The Covered Wagon), que seguiram o gênero ainda na época
do cinema mudo. Foi a partir daí que emergiram alguns nomes como o do diretor
John Ford, provavelmente o mais importante nome do gênero.
Os Bandeirantes (The Covered Wagon), James Cruze - 1923 |
John Ford |
Foi nesta mesma época que surgiram algumas das estrelas
do cinema Western como Gilbert M. Anderson, Tom Mix e William S. Heart, algumas
das primeiras estrelas dos filmes do estilo.
Gilbert M. Anderson, como "Broncho Billy" |
Em meados dos anos 30 e 40 os Westerns perderam sua
força. Foi uma época de produções B, geralmente voltadas para seriados matinées, com
heróis que eram exemplo de comportamento para as crianças americanas da época.
Adventures of Red Ryder, John English / William Witney - 1940 |
Assim como foi visto nos outros posts, muitos dos
movimentos mais importantes da história do cinema foi diretamente afetado pela
realidade social da época. No período pós segunda guerra mundial, os Westerns
ganharam outra cara. Agora mais sombrios e depressivos, os filmes traziam uma
carga emocional mais pesada, transparecendo o sentimento que assolava todo o
mundo. Este subgênero do Western ficou conhecido como “Noir Western”.
Consciências Mortas (The Ox-Bow Incident), William A. Wellman - 1943 |
Os Westerns fazem sucesso até hoje. Após mais de 100 anos
desde o primeiro filme do gênero, novos filmes continuam surgindo, inclusive
remakes de grandes clássicos, o que comprova o quanto este movimento contribuiu
para a industria cinematográfica.
quarta-feira, 19 de novembro de 2014
Neo Realismo Italiano - A Arte Como Subterfúgio em Tempos de Desolação
Grandes produções já abordaram as marcas
deixadas pela segunda guerra mundial. Filmes como “A Lista de Schindler” nos
mostraram as feridas ainda abertas na sociedade após uma das maiores tragédias
da história. Mas existe um período que não é tão comumente explorado nos
blockbusters. A decadência pós guerra.
Após o fim da primeira guerra, e depois da queda do
governo de Mussolini, houve uma desestabilização na industria cinematográfica
italiana. Foi a partir daí que o ambiente que cercava os italianos, quase que
naturalmente deu origem ao cinema Neo Realista.
Terra Treme (La Tierra Tiembla) - Luchino Visconti, 1948
O surgimento deste movimento foi um tipo de resposta ao
cinema conservador que dominava a Itália anteriormente e era um modelo de como
deveria ser o comportamento da família tradicional idealizada. E além dos
belíssimos clássicos que foram eternizados pelas mãos de grandes diretores como
Roberto Rosselini, Federico Fellini, Vitorio De Sica e Luchino Visconti, o Neo
Realismo exerceu a função social inconsciente de registrar com detalhes as consequências
da guerra e o modo de vida do período que veio a seguir, A população era
apresentada em constante luta contra a miséria.
Ladrões de Bicicleta (Ladri di Bicicleti) - Vittorio de Sica, 1948
As principais características do Neo Realismo Italiano foram
marcadas pela necessidade. O aspectos mais marcantes, como as externas (devido
aos danos causados ao estúdio Cinecittà), utilização de atores não
profissionais, a pobreza e a paisagem destruída são os reflexos do rastro
deixado pela segunda guerra mundial.
Roma, Cidade Aberta (Roma, Cittá Aperta) - Roberto Rosselini, 1945
Um dos temas recorrentes na maioria das produções era a
tensão da convivência dos italianos na Italia ocupada pela Alemanha.
Roma, Cidade Aberta (Roma, Cittá Aperta) - Roberto Rosselini, 1945
Apesar de tudo o que o movimento Neo Realista
representou, ele perdeu sua força rapidamente. No início dos anos 50, o
sentimento de reestabelecimento da sociedade italiana fez com que os filmes
americanos, de mensagens positivas e estimulantes, tomassem o lugar dos filmes
que retratavam o que aquele povo tentava esquecer.
Diferente de outros movimentos que também foram relevantes
para o cinema, o Neo Realismo Italiano não surgiu de grupos de teóricos,
autores e estudiosos que pretendiam estabelecer uma estética própria. Ele foi
um movimento que surgiu de um momento histórico catastrófico, e que se fixou na
cultura cinematográfica pela sinceridade de suas produções em meio à vitória da
criação sobre a falta de recursos e que, sendo assim, representou um marco na história
da arte.
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