sexta-feira, 21 de novembro de 2014

Cinema Marginal - A Anticultura Brasileira.

O militarismo é um tema bastante comum no cinema. Além de haver uma vertente especialmente para o caso (os chamados “filmes de guerra”), o argumento também está presente em quaisquer gêneros de filmes, sejam eles ambientados em épocas de conflitos, ou apenas com personagens militares. A mescla da sétima arte com o militarismo rendeu grandes obras, como “O Pianista”, “Caçadores de Obras Primas”, “O Leitor”, entre muitas outras.

Mas a história nos mostra que fora das telas o militarismo sempre foi um inimigo da intelectualidade. Durante o auge do expressionismo, muitas obras foram destruídas pelo nazismo. Na União Soviétiva, a era Stalin reprimiu todos os movimentos artísticos que não fossem baseados no “realismo socialista”.



No Brasil não foi diferente. No período em que o país esteve sob um regime militar (1964 á 1985), toda e qualquer obra artística (musical, literária, cênica, etc) que fosse considerada imprópria pelo governo, era censurada, e seus autores sofriam duras represálias, muitos sendo exilados ou presos.

Mas como já vimos aqui mesmo neste recinto, os momentos de crise acabam sendo um incentivo para a criatividade, e neste caso, um grande desafio para a arte brasileira. A produção artística não parou, mas seus criadores se viram obrigados a optar entre dois caminhos: obras com mensagens disfarçadas, ou obras clandestinas.
Neste post, falarei a respeito  da arte clandestina brasileira, mais precisamente sobre o cinema, que ficou conhecido como Cinema Marginal.

Como forma de resistência ao moralismo e ao otimismo cego pregado pelas propagandas militares, alguns cineastas decidiram dar ênfase a “anticultura” brasileira, retratando tudo aquilo que era rejeitado pelos padrões sociais da época, como prostitutas, drogados, criminosos, promiscuidade, travestis, etc. Também haviam diversas críticas sociais; ao populismo carnavalesco; a censura; e aos padrões cinematográficos.
Houveram exemplos de filmes marginais nos mais diversos movimentos, como o Tropicalismo e o Cinema Novo, e também nos filmes de terror de José Mojica, por isso, o Cinema Marginal não foi considerado um movimento de fato, embora tivesse aspectos únicos como as histórias grotescas e absurdas em produções de baixo custo, personagens estranhos, anti heróis da realidade brasileira, e principalmente, o desprezo pelo “bom gosto”.


O precursor de tudo isso foi Ozualdo Candeias, que trouxe com seu filme de estréia “A Margem”, 1967, a inovação da composição baseada na visão da câmera, ao invés da tradicional cena emoldurada.

A Margem, de Ozualdo Candeias - 1967

Rogério Sganzerla veio em seguida transformando um dos maiores criminosos da história deste país em um ícone, naquele que foi um dos maiores filmes da história do cinema nacional de modo geral.

O Bandido da Luz Vermelha, de Rogério Sganzerla - 1969

Algumas das obras mais marcantes:

Agonia, de Júlio Bressane - 1978

Matou a Família e Foi ao Cinema, de Júlio Bressane - 1969

Bang Bang, de Andrea Tonacci - 1971

Ritual de Sádicos, de José Mojica - 1969




Poderia uma das maiores fases do cinema nacional ter surgido de forma despretensiosa? Candeias resolveu fazer experimentalismos, e acabou influenciando toda uma leva de marginais que não tinham maiores pretensões além da pura e simples avacalhação. 
Um marco na história da cultura nacional.

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